Dilma tenta reverter quadro de estagnação da economia brasileira
No geral, o 13 é tido como um número de azar. Mas há os que o consideram
um anúncio de boa sorte. Para a presidente Dilma Rousseff, 2013 é a
aposta da virada do jogo. Com as medidas de estímulo dadas ao consumo e
aos investimentos e o amplo pacote de concessões públicas que está no
forno, ela espera que o ritmo de crescimento se sustente em 4%,
afastando o fantasma da estagnação que marcou metade de seu mandato. Não
será tarefa fácil. Dados que vêm circulando de forma restrita entre
integrantes da equipe econômica mostram que, tanto no ano que vem quanto
em 2014, o ritmo da atividade continuará mais para moderado do que para
aquecido. E, dificilmente, a média anual de crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) durante a atual administração passará de 3%,
resultado próximo ao observado durante os oito anos de mandato de
Fernando Henrique Cardoso (2,5%) e longe dos 4% de Lula.
“Infelizmente,
o avanço foi de 2,7% em 2011 e deverá ficar entre 1,2% e 1,5% neste
ano. Em 2013 e 2014, o incremento do PIB vai se situar entre 3,5% e 4%,
na melhor das hipóteses. Não há muita ilusão. Esse é o ritmo em que
poderemos crescer sem que o Banco Central tenha que aumentar as taxas de
juros para conter a inflação às vésperas da reeleição da presidente
Dilma”, diz um técnico com trânsito no Palácio do Planalto. A ordem,
acrescenta ele, é manter o discurso otimista para incentivar o setor
produtivo. “Mas nem o capital privado nem o governo conseguirão ampliar
os investimentos necessários para impulsionar o PIB na velocidade que se
quer. Não se ampliam fábricas da noite para o dia, nem se fazem
concessões rapidamente. O importante, porém, é que, em algum momento,
tudo estará nos eixos e os resultados serão surpreendentes”, emenda.
Ainda
que moderada, a confiança do governo não encontra eco no setor privado.
Há muita desconfiança em relação às mudanças de rota da política
econômica, que ficaram mais claras a partir deste semestre. Se o
presidente Lula mantinha um diálogo aberto com os donos do dinheiro,
Dilma optou pelo distanciamento. Mais que isso: passou a defender um
Estado mais presente na economia, com intervenções em setores líderes em
reclamação dos consumidores, como os de telefonia e bancário. Foi,
contudo, o projeto que reduz em 20%, na média, as tarifas de energia
elétrica o que mais provocou celeuma e incitou uma gritaria contra o
Planalto. “O problema é que, em vez de incentivar o investimento
privado, o Planalto o afastou. E sem investimento não há crescimento
sustentado da economia”, afirma o economista Carlos Eduardo de Freitas,
ex-diretor do Banco Central.
Espírito animal
O economista
Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é taxativo: “O único caminho
para se desarmar a armadilha do baixo crescimento é por meio de
investimentos”. Para ele, a decisão de investir dos empresários depende
de seu ânimo em relação ao futuro dos negócios. “Mas o chamado espírito
animal está paralisado em razão da insegurança em praticamente todas as
grandes economias (por causa da crise que atinge, sobretudo, a Europa)”,
lembra. No caso brasileiro, a queda dos investimentos responde por boa
parte da desaceleração da economia, apesar de não ter havido redução em
igual proporção do consumo.
Os empresários reconhecem alguns
avanços na gestão Dilma, como a desoneração da folha de pagamentos. Mas é
pouco ante o intervencionismo, que classificam como retrocesso. Na
avaliação de Mendonça de Barros, em momentos de insegurança
internacional, como o atual, a forte atuação do governo em vários
setores, e discursos agressivos, acabam por ter “efeito importante sobre
as decisões de investimento”. Ele lamenta o fato de o governo não estar
conseguindo estabelecer regras estáveis em seu plano de retomar as
privatizações da infraestrutura, “com mudanças constantes de regras e
objetivos”.
“Isso afasta investidores e empresas que poderiam dar
consistência e tamanho aos vários leilões prometidos. A presidente
Dilma tem que sair do labirinto ideológico que aprisiona seus projetos
de expansão de investimentos privados. Sem que isso ocorra, os projetos
não vão decolar e continuarão restritos a alguns setores já
privatizados”, alerta.
Ajuda da China
A boa notícia, para o
economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, é que, pelo menos no setor
externo, não haverá grandes problemas em 2013. “Apesar das oscilações e
da desaceleração da economia chinesa, a pauta de exportações do Brasil é
muito ampla.” Ele acredita que a China voltará a crescer a taxas
superiores à deste ano (7%), o que deverá fortalecer novamente os preços
das commodities exportadas pelo Brasil. Foram as commodities em alta
que ajudaram a impulsionar a atividade em boa parte do governo Lula.
NOME: DERICK RECHE Nº:7